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Exposição "Serendipity", apresenta obras de 10 artistas no Rio de Janeiro, a partir de 2/fevereiro. (30/01/2019) |
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Fábio Carvalho apresenta, pela primeira vez completa, a série Hora do Rancho, que consiste em desenhos com tinta permanente à quente para cerâmica sobre pratos de porcelana antigos previamente decorados. O trabalho foca na representação de objetos de uso militar, normalmente associados com a masculinidade bruta, a virilidade ideal para a sociedade patriarcal, em um meio (pratos de porcelana com decoração floral) que muitos entendem como pertencente exclusivamente ao universo do delicado e feminino. |
"Hoje Há linhas que nos costuram e seguram a todo instante. "É preciso estar atento e forte", diz o refrão que soa como um hino na rotina que parece nos detestar. O indivíduo se esvai a cada segundo que passa, pois deixamos de notar, por medo, o humano. "É perigoso acordar o sonâmbulo". Despertar é perigoso, porém necessário; é no despertar que criamos consciência, lucidez. Se a Arte reflete o cotidiano de seus contemporâneos, não é à toa que a arte brasileira sempre foi baseada em questões políticas: uma monarquia mal constituída, uma república formada as pressas, uma ditadura eterna. Serendipity 2019 fala sobre democracia, sobre liberdade, sobre conforto e sobre a falta de tudo isso; sobre existir, sobre envelhecer diante desses princípios. A galeria torna-se espaço de testemunho e porto seguro para o grito necessário desse novo time formado. Obras que fogem do padrão "família tradicional brasileira" ganham abrigo nesse novo espaço com uma nova leitura e um sentimento de determinação. O grito ficou mais alto, somos mais e não vamos nos calar. Nietzsche afirma que temos a arte para não morrer da verdade; o que ele não nos disse é que a arte é o amadorismo da vida que percorre a dúvida e a dívida dos míseros anseios que nos percorrem. Permeamos sucessivamente a estranha camada que separa o humano do divino, o aberto do sombrio, a vida do fenecer. Nada mais aflige o cotidiano depois de nós mesmos; somos a própria limitação e o próprio percalço torna-se a mandatória libertação. Essa mostra cumpre seu pequeno dever de manifestar em primeira vista o que o cotidiano tenta nos apagar: somos resistência porque existimos; e existir é um ato político, é aguentar, sobreviver, enfrentar, é ser a costura que sempre tentam romper, nunca se isolar, é não soltar a mão de ninguém. Luiz Otávio Zampar
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