- Fale algo sobre sua vida pessoal:
Nasci na saudosa Guanabara (sim, tenho nostalgia da Guanabara), no dia 21 de maio de 1965, filho
de pais professores, meu pai especialista em literatura portuguesa, minha mãe formada em ciências sociais. Estudei em alguns tradicionais colégios do Rio de Janeiro, como o Instituto de Educação (onde tive, além das aulas tradicionais, aulas teóricas e práticas de música, artes e teatro), e o Instituto Guanabara. Depois fiz minha formação universitária na UFRJ, seguida de uma pós-graduação, totalmente fora da área de artes Por falar em escolas, dei sorte de ainda estudar numa época e em colégios em que havia o ensino de história da arte e oficinas de "artesanato" e aulas de "arte". Lembro do momento mágico que foi para mim, aos 5 anos, descobrir as cores primárias, secundárias e terciárias, e como isso mexeu comigo. Era fantástico!!! Eu podia com apenas algumas cores, ter todas as outras! Lembro também, na oitava série, de um seminário que apresentei sobre o Romantismo Francês, para o qual o meu pai fez diversos slides. Ainda lembro até hoje aquelas imagens, do dia de minha apresentação.
- Quando você começou a se interessar sobre arte e qual foi a reação familiar?
Meu interesse por arte se deu de forma gradual e enviesada. O primeiro "culpado" foi meu pai, que sempre levou a mim e meus irmãos, desde pequenos, a museus (arte, história, ciências), e sempre nos
estimulou a criar livremente. Até uma certa idade, podíamos desenhar com giz colorido nas paredes da área de serviço e do quintal de nossa casa. Eu meus irmãos criávamos verdadeiros cenários para nossas brincadeiras. Além disso, tínhamos em casa pilhas de livros e enciclopédias sobre arte. Eu adorava copiar em meus desenhos os quadros que via nos livros. Meu avô, não me lembro em que idade, acho que lá pelos meus 5 anos, nos deu um cavalete com um bloco grande de papel, potinhos de guache e muitos pincéis, e isto foi minha principal diversão por muito tempo. Aliás, desenhar e pintar foram sempre atividades divertidas para mim. Até aí nenhuma novidade, pois toda criança adora isso. Acho que o diferencial foi que em casa, e nas escolas pelas quais passei, isso sempre foi estimulado.
- Qual foi sua formação artística?
Em 1987, voltando de uma viagem, estive no sítio da irmã de uma amiga, momento este que foi muito impactante para mim, pois ela era pintora, e tinha um grande atelier neste sítio. Foi como reencontrar algo que estava adormecido. Ao chegar no Rio, naquele mesmo dia, ressuscitei o meu material de pintura, que estava guardado há muito, desde o início da adolescência, e comecei a pintar novamente. Nesta época eu trabalhava longe de casa, numa cidade vizinha ao Rio, e aproveitava as viagens de ônibus para estudar história e teoria da arte. E isto cada vez foi ficando mais importante para mim, foi se tornando algo prioritário em minha vida. Algum tempo depois voltei a trabalhar no centro do Rio, e quase todos os horários de almoço eu passava no Museu de Belas Artes, e eventuais outras exposições pelo centro, que naquela época eram muito raras. Ainda não vivíamos a febre dos centros culturais iniciada nos anos 1990. Continuei por mais alguns anos estudando e praticando sozinho.Acabei por ingressar em 1990 na Escola de Arte Maria Tereza Vieira, ali mesmo no centro da cidade, e em 1991 migrei para a Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Foi quando decidi que em alguns anos abandonaria de vez o trabalho formal em empresas, para me dedicar ao estudo e prática de arte. Isto se deu em 1993, e de lá para cá, é o que tenho feito. Lá no Parque Lage, depois de alguns outros cursos, ingressei num curso do Milton Machado, que foi o meu divisor de águas. Há o antes, quando eu era ainda ingênuo e romântico em relação à arte, e o depois, quando graças ao Milton passei a entender e ver arte de uma forma absolutamente diferente. Ao Milton sempre agradeço por isto. Tive vários ótimos professores, mas Milton Machado foi o mais decisivo para a formação do meu pensamento como artista.
- Que artistas influenciaram seu pensamento?
São vários, a cada época da minha vida os nomes variaram, mas acho que tenho muito mais influência em meu trabalho do cinema, da música, de coisas cotidianas, não artísticas, dos blogs que acompanho, de fotografia, design, do noticiário. Não consigo, por exemplo, achar um nome de artista que possa ter sido uma influência, mesmo que indireta, na minha fase de trabalho atual.
- Como você descreve seu trabalho?
Muito pessoal e eclético, se visto ao longo dos 17 anos de produção. Sempre ligado ao que mais me
na vida. Já passei muito tempo pensando qual seria o fio condutor de minha produção artística. E cheguei à conclusão de que o que há em comum entre os diversos períodos, que em termos de temática e imagem são tão diversos, é a forma como eu organizo e traduzo os estímulos do mundo que me são importantes, que me afetam, e que acabam por entrar nos meus trabalhos. E isso quase sempre compreende o uso de imagens que já existem no mundo, imagens geralmente que tem a natureza comum de serem originalmente múltiplas, reprodutíveis e/ou reproduzidas em larga escala, e que através da minha apropriação e tradução, retornam como algo novo e único; a aura retorna (pensando em Walter Benjamin). Imagens criadas ou produzidas originalmente para serem de todos (e no final, de ninguém em particular), que pelo meu processamento tornam-se, além de únicas, MINHAS. Minhas no sentido de falaram de mim, mesmo que não originalmente criadas por mim.Outro ponto em comum em minha produção, em qualquer “fase”, é o fato de trabalhar em séries. Séries de trabalhos criados com imagens produzidas originalmente em série, em larga escala. Há algo mais nisso.Uma última observação: não me considero um artista de uma mídia só. Não me prendo a apenas uma mídia em meus trabalhos. Para mim o mais importante não é o meio, mas sim a mensagem. Desta forma, escolho o meio em que o trabalho melhor se dá. Pratico linguagens e formas híbridas. Isso para mim é liberdade, e não consigo conceber a prática artística sem liberdade.