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publicado originalmente em DROPS Magazine

http://www.dropsmagazine.com.br/europa/fabio-carvalho-o-artista-brasileiro-que-conquistou-portugal

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Encantar-se por um trabalho artístico não é mérito somente de marchands e colecionadores. Quando conheci Fábio Carvalho _por meio de postagens do galerista Renato de Cara em seu Facebook_ foi amor à primeira obra. O artista carioca trabalhava na época a série “Macho Toys”, uma profusão de decalques delicados sobre fotos de soldados e flores aplicadas em caminhões tanque de plástico, que tinha como finalidade refletir sobre as expectativas de gênero, misturando a bravura e altivez dos homens a elementos tipicamente femininos. Para um ser piegas como eu, ver a guerra romantizada de Fábio foi como bálsamo, o que me fez acreditar que da desgraça é possível, sim, absorver beleza.


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Tendo já realizado 9 individuais e integrado mais de 80 exposições coletivas, Fábio Carvalho já teve mostras em Nova York, Berlim e Londres, além de ter participado das Residências Artísticas “Bordallianos Brasileiros”, em Portugal, onde o artista reside novamente esse mês de abril, apresentando uma série de bordados que estão conquistando o Porto. Em carta exclusiva à Drops, ele relata seu trabalho e sua fantástica conquista. Confira abaixo os melhores trechos.

Porto, 18 de abril de 2012.
“Para o meu projeto de residência artística no Maus Hábitos (Porto, Portugal), pretendo incorporar, na pesquisa corrente do meu trabalho, elementos típicos dos labores ditos femininos, ainda presentes na cultura lusitana, em particular aquele que é bem pouco conhecido pelos brasileiros: os lenços de namorados que são uma forte tradição da cultura popular portuguesa e eram bordados pelas mulheres e oferecidos ao namorado, noivo ou marido que partia para uma terra distante em busca de melhores condições de vida, na maioria das vezes para o Brasil. Estes eram bordados com uma quadra de autoria da própria mulher, com ilustrações que simbolizavam paixão, amor, fidelidade, sempre em cores fortes e traços ingênuos, como se fosse uma carta que o homem levava sempre consigo no bolso para se lembrar da amada que ficou longe.

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O interesse em incorporar elementos lusitanos em minha produção artística se deu quando estive ano passado em Portugal, a convite da Fábrica de Faianças Artísticas Bordallo Pinheiro, para participar do projeto de residência artística “Bordallianos Brasileiros”, do qual participaram também 18 outros artistas brasileiros, entre eles Tunga, Efrain Almeida e Vik Muniz. Na ocasião, por conta deste projeto, passei um mês em Portugal, numa verdadeira imersão em sua cultura, hábitos e sua gente. Eu já mantinha relações artísticas e de amizade com artistas portugueses, tendo já participado de exposições no Porto, em Lisboa, e também na Bienal de Cerveira. Mas esta experiência na Bordallo Pinheiro, mais o tempo que dediquei a conhecer outras localidades portuguesas, fizeram com que eu verdadeiramente me enamorasse definitivamente por Portugal e pelos portugueses.


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Foi ao me dar conta do quanto já havia em mim de português, mesmo sem o saber, ao sentir que eu espontânea e naturalmente me relacionava e me identificava com o modo de ser do português, que se tornou uma necessidade voltar a este país para investigar mais a fundo esta afinidade; chego a dizer que em Portugal pude ser mais verdadeiramente eu mesmo do que sempre pude no Brasil. Para poder colocar em prática este meu projeto de residência artística, mesmo antes de partir para Portugal, fui estudar e aprender as técnicas do bordado português, e quais seriam as melhores formas de incorporá-los em meus trabalhos. Anteriormente eu já vinha incorporando apliques e bordados industriais em meus trabalhos, como um dos elementos ditos ‘femininos’ em contraste com as imagens de virilidade, poder e força masculina, contraste este que é o assunto central de minha produção atual. Mas já em finais de 2011 comecei a bordar à mão em meus trabalhos sobre tecido, o que agora estou aprimorando aqui em Portugal”.

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Como quem transforma o que vê e sente em bordado, e faz da linha sua aliada, Fábio Carvalho é o Leonilson da nova geração, menos infantil, mas politizado e conhecedor dos devaneios humanos. Sua obra transpassa a barreira do lirismo e fica na linha tênue entre a virilidade e a delicadeza. Para os colecionadores, uma grande oportunidade de aquisição. Para os admiradores de beleza e encantamento, a certeza de que Portugal e Brasil serão pequenos para esse homem de educação e sensibilidade ímpares.

por Daniel Amaral
fotos: acervo pessoal do artista.
 
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