Risca, perfura, atravessa, transpassa, vai, volta, rompre, enlaça, une, repara, adorna. Estamos a bordo. Já desmanchamos as linhas imaginárias que costuram os polos. Com as mesmas linhas bordamos outros mundos, outros corpos-casa. Estamos na borda. No entretecido da pele-mundo, a brutalidade da agulha não se separa da poesia do fio. Tecido que sangra como pele perfurada. Bordado como sutura. Bordado como soltura. A violência pode ser frágil e a delicadeza pode ser força irrepresável. Transbordemos.
Fábio Carvalho, Rick Rodrigues e Rodrigo Mogiz. Três homens que bordem. Das bordas desfazem linhas-limites que normatizam o gênero, a moral, o real. O nome Almofadinhas faz referência a um grupo de homens que, no início do século XX, ousou desafiar os modelos de masculinidade ao propor um concurso de bordado e pintura em almofadas, na cidade de Petrópolis, no Rio de Janeiro. Acusados de "feminização do social", "desvirilização da sociedade" e apontados como um risco aos valores patriarcais, tais rapazes foram alvo de deboche na imprensa da época, recebendo tal apelido como uma forma de escárnio.
Arthur Bispo do Rosário, que viveu internado na Colônia Juliano Moreira entre 1939 e 1989, desfez as vestes que uniformizam os corpos no manicômio e com suas linhas cobriu objetos, costurou e bordou mantos, estandartes e fardões para apresentar a Deus no dia do Juízo Final. Bispo desfiou o uniforme, transbordou a cela e se costurou na pele do mundo.
Na exposição Almofadinhas | Experiência B, apresentamos um encontro entre as obras dos Almofadinhas e a produção de Arthur Bispo do Rosário, incluindo obras nunca antes exibidas ao público, através de um processo experimental e colaborativo, desenvolvido na intercessão entre arte e cuidado, curadoria e educação. O grupo Almofadinhas apresentará ainda trabalhos concebidos no período de residência na Casa B, um deles criado em parceria com a Oficina de Costura e Bordado e a Oficina de Mosaico da Escola Livre de Artes (ELA) do mBrac. |