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Há vinte anos Fábio Carvalho exibe seus trabalhos em galerias e centros culturais brasileiros e estrangeiros, mas foi no ano passado, com a exposição "Papel de Seda", na Galeria Pretos Novos, que o artista foi incentivado a levar suas delicadas bandeirolas para as ruas de Lisboa, onde fazia uma residência artística. O resultado surpreendeu pela sutileza de sua intervenção durante os festejos de Santo Antonio, quando a cidade portuguesa é tomada por adornos nas portas e janelas residenciais. |
De volta a Portugal, em fevereiro deste ano, o artista criou três padronagens originais que foram impressas a laser em papel, no formato de azulejos e coladas com cola de amido, em 45 fachadas residenciais lisboetas onde os azulejos originais haviam desaparecido por deterioração ou vandalismo. Os "azulejos de papel", ao mesmo tempo que causaram um certo estranhamento ao olhar, podiam ser por vezes facilmente confundidos com os azulejos originais. Os projetos de arte urbana de Fábio Carvalho atuam como pequenas inserções, que invadem o espaço e ganham uma força maior ao tensionarem o que já estava lá. |
Tudo começou a partir dos trabalhos da série Delicado desejo, formados por um patchwork de diversas rendas, originalmente produzidas para serem usadas como apliques em roupas femininas. Neste caso, elas foram combinadas em formato de armas de fogo em tamanho real, contrapondo a delicadeza do material com os artefatos normalmente associados com a virilidade bruta. Na exposição são apresentadas quatro peças desta série: três pistolas e um fuzil modelo AR-15. A produção atual de Fábio Carvalho questiona o senso comum que reforça a antítese entre virilidade e poesia, força e fragilidade, masculinidade e vulnerabilidade, propondo uma discussão sobre estereótipos de identidade de gênero. |
A série Transposto, trabalho inédito desenvolvido especialmente para esta exposição, parte de azulejos e fragmentos de azulejos portugueses coletados pelo artista em caçambas de lixo de Lisboa, resultado de restos de obras de remodelagem das antigas casas do final do século XIX e início do século XX. O material foi inserido em moldes com cimento, de forma a criar "pedaços de parede", como um resgate daquilo que estes azulejos um dia foram por tanto tempo, antes de serem descartados. Em cima destes "pedaços de paredes" foram colados os mesmos "azulejos de papel" usados na intervenção urbana em Lisboa. Com este trabalho inédito surge uma transposição das ações urbanas de Lisboa para o Rio de Janeiro, através de azulejos e simulacros de azulejos que vieram na bagagem do artista. |
A exposição propõe ainda uma ação coletiva batizada de (Re)Junto, na qual os visitantes poderão colar "azulejos de papel" diretamente sobre as paredes da galeria, delegando ao público a composição final da obra, numa referência direta a Athos Bulcão, que por vezes deixava por conta dos operários a decisão de como os azulejos deveriam ser aplicados em seus painéis, como ocorreu por exemplo, com a obra da Praça da Apoteose, Sambódromo, Rio de Janeiro (1983). |
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