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O motor deste trabalho é a sombra como registro "fotográfico"
(pois dependente da luz - fotografia: "escrita com a luz")
de uma pessoa que passa. Entretanto, este registro está condenado
ao desaparecimento instantâneo, pois não estará
mais lá depois da passagem da pessoa pelo local. A sombra é
uma imagem (representação) fotográfica que o suporte
(solo) não é capaz de fixar.
Neste trabalho, a sombra, o instantâneo efêmero, é
registrada (fixada), desprendida do objeto real (o corpo) que a projeta,
deixa a posição horizontal de subordinada, assume a posição
vertical que antes pertencia ao corpo do qual ela era dependente, e
ganha autonomia, assume uma realidade própria, pois não
necessita mais daquele objeto (o corpo) para existir.
Uma vez eternizada, a sombra tem o seu destino efêmero original
alterado. Esta eternização de um momento fugaz acaba por
torná-la mais presente e real do que o corpo que passou, do qual
não sabemos mais nada. Sobrou apenas seu rastro, uma pista obscura
da identidade desta pessoa, identidade esta não mais possível
de ser restabelecida.
O nome deste trabalho (Santuário das Ninfas) parte do mito da
origem da pintura, como narrado por Plínio, segundo o qual a
pintura teria surgido em Corinto, quando pela primeira vez um contorno
de uma sombra de um homem foi traçado em uma parede, que num
estágio posterior, mais avançado, passou a ser preenchido
por uma única cor. Plínio narra ainda a história
de um ceramista, Dibutate de Corinto, que em consideração
à sua filha, que havia traçado o retrato de seu amado
a partir de sua sombra projetada na parede, pois este partia
para o estrangeiro, fez um relevo de argila, modelado dentro deste contorno.
Depois de seco, o retrato em argila foi colocado no Santuário
das Ninfas. |