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Análise do conteúdo estomacal de Fábio Carvalho no período de 04/04/95 a 18/04/95
O trabalho se constitui de um vídeo com imagens de todos os alimentos
consumidos pelo artista num período de 15 dias. A galeria do Museu da República (RJ) em que este trabalho foi apresentado originalmente possuia um problema peculiar:
ela era separada do restaurante anexo por portas francesas envidraçadas.
Da galeria era possível observar toda a atividade do restaurante.
Incorporando esta interferência ao trabalho, o monitor foi colocado
de costas para as portas envidraçadas, que passaram então
a funcionar como uma interface entre a galeria e o restaurante, criando-se
uma ligação conceitual entre o trabalho e o restaurante.
Este trabalho faz parte de um grupo de obras que desenvolvi sob o título
geral Diários, que lidam com o conceito de diários como
índices biográficos pessoais, deixando-se de lado qualquer
vestígio íntimo ou confessional.
Não há anotações ou textos, como em um diário
tradicional, mas sim registros visuais, algumas vezes apenas resíduos
de atividades rotineiras da minha vida.
Estes acabam sendo diários de um indivíduo “opaco”,
o qual não se pode reconstruir muito claramente a partir dos
vestígios deixados. Você sente estar em contato com os traços
de uma biografia, mas que frustra ao não se permitir individualizar.
Alguns destes trabalhos podem ser considerados diários “rígidos”,
como é o caso em "Análise do conteúdo estomacal de Fábio Carvalho...", pois são decorrentes de tarefas executadas todos os dias,
alguns mais de uma vez ao dia, ao longo de todo o período no qual
o trabalho foi desenvolvido. Outros podem ser considerados diários mais "maleáveis",
pois não foram executados dia a dia, mas sim quando um determinado
evento acontecia.
Com estes trabalhos queria enfocar a possibilidade de uma ressensibilização das coisas e dos aspectos mais triviais do dia a dia. Não se trata
de “estetizar” a vida, mas sim manter-se desperto para ser
capaz de perceber de novas formas o que nos acontece a todo instante. |
