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Trabalhos decorrentes da Residência Artística no Maus Hábitos, Porto, Portugal, em abril 2012, onde busquei incorporar, na atual pesquisa do meu trabalho, elementos típicos dos labores ditos femininos, ainda presentes na cultura lusitana, em particular os lenços de namorados, um elemento de conexão no passado entre Portugal e Brasil, embora conhecidos por poucos no Brasil.
Os lenços de namorados são uma forte tradição da cultura popular portuguesa no norte do país, que teve origem pelo século XVIII. Eram lenços bordados pelas mulheres solteiras, que eram usados originalmente para declarar seu interesse por um determinado rapaz. Elas entregavam o lenço para o pretendente, que se o usasse em sua roupa no dia seguinte, indicava que ele correspondia ao sentimento da moça. Mais tarde, os lenços passaram também a ser presenteados ao namorado ou marido que partia para uma terra distante em busca de melhores condições de vida, na maioria das vezes para o Brasil.
Os lenços eram bordados com uma quadra de autoria da própria mulher, cercada de ilustrações que simbolizam a paixão, amor, fidelidade, etc., sempre em cores fortes. Este lenço passou a ser como uma carta (tema muito repetido nos lenços) que o seu namorado ou marido levava sempre consigo no bolso, para se lembrar da amada que ficou longe, em Portugal.
Na série Em sendo patente... insígnias militares reais foram incorporadas a “paninhos” (naperons) ou lenços e guardanapos antigos portugueses. Por cima destas insígnias foram bordados à mão pelo artista elementos típicos dos lenços de namorados. Algumas vezes as insígnias militares são completamente incorporadas ao desenho bordado, como no caso das asas dos passarinhos.
Minha produção artística mais recente surgiu a partir de uma reflexão sobre os elementos que constituem as expectativas de gênero, como por exemplo os brinquedos que as pessoas dão aos seus filhos bonecas, jogos de chá e jantar de miniatura, e outras atividades domésticas ou delicadas para meninas; bolas, carros, armas, soldados e brincadeiras mais ativas e de força para meninos, que mesmo não intencionalmente são usados para direcionar e moldar a futura personalidade destas crianças.
Sua poética artística opera justamente na superposição e no conflito entre elementos tradicionais do universo feminino, em particular os padrões decorativos florais, e a louça de porcelana, com os estereótipos de masculinidade, como o soldado, o executivo, o halterofilista, o cowboy, etc. |