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O interesse por fazer este trabalho surgiu quando observei o desenho formado pelas marcas de suor em minha roupa, após realizar atividades físicas. Comecei a pensar nestas marcas como um processo semelhante à gravura, onde o corpo era a matriz, e a roupa o suporte da gravura. Entretanto, era uma gravura volátil, uma vez que o suor poderia secar rapidamente, mesmo antes da roupa ser lavada, o que também “apagaria” a gravura. Pensei então em perpetuar esta “gravura”, digitalizando as manchas de suor que mais me interessavam, para em seguida realizar uma impressão digital das mesmas. Mas não poderia ser um processo 1:1, ou seja, uma reprodução em escala da mancha. Queria que o espectador do trabalho tivesse uma leitura inicial ambígua, dúbia, que ele se sentisse diante de uma “OBRA” de arte, criando um deslocamento de sentido. Então, decidi pela ampliação da escala original para algo muito maior, que tivesse uma certa “monumentalidade” ou uma “grandeza” de pintura. As manchas foram então ampliadas em até mais de 15 vezes seu tamanho original. Estas imagens são como auto-retratos, não no sentido convencional da história da arte, mas um retrato de um instante particular do corpo de um indivíduo. São "retratos de retratos" — uma dupla representação, uma vez que a impressão do suor no tecido já é em si uma representação do corpo que sua. Uma imagem efêmera, de um resíduo normalmente encarado como desagradável, incômodo, originalmente condenado ao esquecimento e desaparecimento, que irá superar no tempo ao corpo que as produziu. Na escala e forma em que são apresentadas, estas gravuras corporais ganham um novo tempo, um eterno presente, e uma nova significação, que se refazem a cada novo olhar, a cada nova leitura, abrindo questões conceituais e formais que talvez normalmente não lhe fossem atribuídas. |
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