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Trabalhos decorrentes da Residência Artística Oficina da Formiga, na cerâmica homônima, em Ílhavo, Portugal, realizada entre novembro e dezembro de 2013.
Nesta residência artística foram exploradas as técnicas e métodos portugueses tradicionais da pintura com estampilhas em faiança sobre peça chacotada com vidrado cru, surgidas no século XIX, e há muito desaparecidos, não mais adotados nas indústrias com produção em larga escala. A Oficina da Formiga é uma das poucas cerâmicas, senão a única, que de forma corajosa preserva e dá continuidade a estas técnicas.
Pensando nos tradicionais pratos de faiança portuguesa com figuração humana, que muitas vezes representam reis, nobres, figuras históricas ou heróis nacionais, e nas figuras de convite da azulejaria portuguesa, criei um desenho original onde vemos um soldado em uniforme camuflado, com asas de borboleta saindo de suas costas.
Em seguida, foram executdas variações deste desenho, produzindo-se um total de 8 peças únicas. Os pratos foram complementados com bordas pintadas com padrões tradicionais da faiança portuguesa. As bordas escolhidas, apesar de serem sempre representações florais, sugeriam também arame fardado, ou outros elementos usados em trincheiras.
O uso da borboleta monarca (Danaus plexippus) em alguns de meus trabalhos vai muito além do simples fato de borboletas serem normalmente associadas ao universo feminino, frágil e delicado, que em oposição aos símbolos usualmente pensados como masculinos, de força e virilidade, formam a principal dialética de minha produção artística, que procura levantar uma discussão sobre estereótipos de gênero, e questionar o senso comum de que força e fragilidade, virilidade e poesia, masculinidade e vulnerabilidade não podem coexistir.
O uso específico da borboleta monarca surgiu como um contraponto à camuflagem dos uniformes militares. As borboletas monarca são tóxicas, e por isso são evitadas pelos predadores. Só que há outras espécies de borboleta não venenosas que mimetizam (imitam) o padrão muito colorido e exuberante da monarca, com evidente benefício para as “imitadoras”, que são também evitadas pelos predadores.
Com a camuflagem, procura-se misturar ao ambiente, para não ser visto. Já no mimetismo acontece o oposto, trata-se de chamar muita atenção, para fingir ser quem não é. Mas ambos são igualmente estratégias de sobrevivência e proteção, que objetivam confundir e enganar. |